sábado, 30 de abril de 2011

Definição

A Carta Catalã e o Mapa Mundi de Fra Mauro marcam o apogeu das duas principais formas de cartografia medieval. Os portulanos permanecem úteis até a transformação da navegação por estima em navegação por latitudes e os mapas da cartografia latina tradicional sofrem o golpe final com a difusão de uma obra que parecia possuir fundamentos científicos assim como uma origem clássica respeitável: a Geografia, de Ptolomeu.

Edições da Geographia

Ensaio bibliográfico relevante:


sexta-feira, 29 de abril de 2011

1406

A primeira versão manuscrita data de 1406, composta por Emanuel Chrysoloras e Jacopo d'Angiolo, acrescida em 1427 de um mapa da Europa do Norte composto por Guillaume Fillastre. Sua primeira impressão data de 1477, logo seguida por várias outras na Alemanha e na Itália. Sua difusão foi impressionante nos meios eruditos e em breve partilhava do mesmo prestígio do Almagesto. Os procedimentos matemáticos utilizados por Ptolomeu para a confecção de seus mapas já eram bem familiares aos professores universitários e, junto com os dados observacionais de latitudes e longitudes, davam a fácil ilusão de uma obra científica se comparada ao mundo sem formas das imagens do mundo ou os rústicos portulanos, coisa de gente do mar.

Logo estava fornecendo as "bases matemáticas" para a geografia tradicional: a edição de Pompônio Mela preparada por Francisco Nunes de la Yeva em Salamanca, em 1498, agrega às realidades geográficas mencionadas pelo autor as posições e seus novos nomes, extraídos da obra de Ptolomeu. Do mesmo modo, o mapa reproduzido nesta edição espelha as concepções ptolemaicas das formas oceânicas e a carta que Paolo Toscanelli teria enviado a Colombo era composta segundo latitudes e longitudes.

Lelewel assim caracteriza a influência da obra de Ptolomeu: Mais un auteur ressuscité vint, comme un revenant, arracher les construction continentales de leur assiette (96), jeter désordre dans la géographie, entraînant pour longtemps la cartographie dans des chemins rétrogrades et vicieux" (Lelewel, Géographie du Moyen Âge, pág 119, volume II, 1853).


(96) - As cartas itinerárias e continentais alcançavam um grau bastante razoável de qualidade. É evidente que, por este motivo, pouco concordavam com as concepções ptolemaicas.



“Secunda Europe tabula” (Espanha e Portugal)
Cláudio Ptolomeu. Geographia.  Rome: Arnold Buckinck, 1478.
Newberry Library (Gift of Edward E. Ayer): Ayer *6 P9 1478

nam versus occidens

Mas do mesmo modo como as navegações portuguesas na costa da África e os melhoramentos técnicos da navegação e da cartografia a elas vinculados deram origem à náutica astronômica, por volta das últimas décadas do século XV, e o novo tipo de mapa correspondente, ordenado segundo observações astronômicas contemporâneas, provocou o abandono do portulano durante o século XVI, os grandes descobrimentos espanhóis e portugueses deram um golpe fatal às concepções ptolemaicas. Por volta de meados dos quinhentos, estas eram discutidas apenas por eruditos alemães. A cada edição da Geografia eram acrescentados novos mapas construídos segundo as novas concepções. O contraste com as construções de Ptolomeu é chocante.

O editor* da obra de Mela protesta no prefácio contra a denominação abusiva dada às novas ilhas descobertas: nam versus occidens hispaniarum rex Ferdinãdus & helisabeth terrã habitatã distãtem ad occidenti p xlv gradus invenerunt. que abusive india a quibusdã dicitur. O Novo Mundo, porém, fará de tudo isso uma lembrança.





* O mapa mundi acima consta da edição citada, por Francisco Nunes de la Yerva, da Cosmographia de Pomponius Mela publicada em Salamanca, pela imprenta Nebrissensis, em 1498.